Todo dia é igual. À noitinha dou
mamadeira a João Victor. É um ritual que seguimos à risca: depois do banho,
cabelo enxugado, pijama vestido, aí, quando o ar condicionado já esfriou o
quarto, levo ele pra dentro, ele que bate a porta e solta uma gargalhada. Toma
o leite na penumbra e, assim, geralmente, adormece.
O habitual é empurrar a mamadeira
para o lado e debruçar-se no meu peito. Agora ( isso começou semana passada)
ele faz tudo igual, só que em vez de debruçar-se sobre o pai, desce do colo e vai
direto pra cama que fica à sua frente. E, de imediato, adormece. Fez isso ontem
e pensei: está ficando grande o meu rapaz, estão chegando as “autonomias”,
mesmo que discretas.
Hoje João Victor faz 4 anos. Olho
pra ele, que agora faz a sesta numa rede, tão sereno. Como é bom vê-lo dormir
nesse sossego, como é bom poder sair com ele para passear sem me preocupar com
a hora do propranolol, sem medo de ser surpreendido com uma crise de hipóxia. Graças
a Deus, aos amigos e aos médicos, e médicas, ele leva uma vida normal. Só lembro
da sua cardiopatia quando chega o dia da consulta semestral com a
cardio-pediatra.
Hoje aniversaria a pessoa mais
importante do mundo, para mim. É por ele que saio todos os dias para trabalhar.
É por ele que volto todos os dias para casa. É por ele, e também por mim, que
estou criando coragem para voltar a estudar, fazer cursinho, vestibular,
(outra) faculdade. Mas como ter coragem de encerrar o ritual quede botá-lo para
dormir, todas as noites?
Autonomia. É a chave para nossas
vidas. Da minha e da dele. Mas como é difícil deixar ele crescer (rsss...)!
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