segunda-feira, 16 de março de 2009

NÃO VAI DOER NADA



João Victor não nasceu em junho, mas é craque em pular fogueira. Percebi isso no HCor. De lá, guardo dois episódios emblemáticos dessa sua capacidade. Um deles foi quando saiu da UTI e, no quarto, estava demorando a fazer xixi. O problema devia-se ao longo período (14 dias) de uso de sonda urinária. Sem a sonda a, o sistema urinário não queria funcionar. Aí a pediatra resolveu fazer uma punção no canal da uretra, que, basicamente, consiste na introdução de uma mangueirinha por onde sai a urina e, depois, com auxilio de uma seringa, fazer a sucção do canal. Depois disso, garantiu a médica, a ele voltaria a urinar normalmente.

Nós tentamos argumentar que seria melhor esperar um pouco mais para ver se o xixi saia naturalmente e assim evitar a dor do procedimento, mas, depois que a pediatra nos chamou a atenção para o desconforto que ele estava sentindo com a retenção da urina, concordamos que o procedimento fosse feito. Só fiquei ao lado do leito até o momento que a auxiliar de enfermagem chegou com o material e iniciou os preparativos. Não tive coragem de olhar ela enfiando aquela mangueira no pinto do meu filho. Virei as costas e esperei o grito. Aí ouvi um grito de susto, que não foi dele, e gargalhadas. Aconteceu o seguinte: quando a auxiliar tirou a fralda e pegou no pinto dele para colocar a sonda, João Victor mandou um jato de mijo em cima dela com direito a algumas gotículas para a pediatra. A outra situação foi aquela que já mencionei aqui no blog, quando ele estava para receber alta e detectaram um derrame no miocárdio que, graças a habilidade dele de pular fogueira, foi tratado e resolvido com medicamentos, quando tudo se encaminhava para uma solução cirúrgica.

Mas recentemente, aqui em Pernambuco, ele livrou-se mais uma vez de sofrer um suplício. Foi numa coleta de sangue para seus exames de rotina. Nós fomos ao CERPE de Goiana, porque lá sempre pegavam a veia dele sem dificuldade na primeira tentativa. Pegavam. Dessa vez foram três furadas, poucas gotas de sangue colhido, maior parte dele coagulado. Depois de chamar um auxiliar do Hospital Memorial, que conseguiu umas poucas gotas de sangue, senhora do laboratório pediu pra gente voltar no dia seguinte para coletar o resto do material. Disse que um médico do Memorial coletaria o sangue de João Victor direto da artéria, já que não estavam conseguindo pegar pelos vasos capitalares. Fiquei curioso porque ela deixou claro que só o médico podia fazer esse tipo de coleta. Em casa, Valéria me lembro que no HCor chegaram a cogitar fazer esse tipo de coleta para medir a saturação de João Victor, que foi descartado pela cardiologista por ser tão doloroso ao ponto de poder provocar uma descompensação clínica.

Foi por causa dessa lembrança de Valéria que resolvi buscar uma alternativa à coleta arterial. Liguei para a central do CERPE para me informar se eles tinham alguma unidade especializada em atendimento infantil. Disseram que sim, no Recife. A moça que me atendeu na central ainda recomendou uma funcionária em particular, Graça, que, conforme comprovamos, tem muita habilidade em lidar com criança. Fomos lá. Graça (essa ai, no pirmeiro plano na foto deste post), cantou canções africanas pra João Victor e depois colheu o sangue na forma convencional, numa única e quase indolor picada.

Voltei ao CERPE de Goiana e, sutilmente, falei pra moças de lá não recomendarem mais essa coleta via canal arterial. Disse pra elas que há casos em que, devido a dor tão intensa, há crianças que defecam durante a coleta. Só uma fez um comentário, tentando amenizar a postura adotada, explicando que só o médico é quem faz esse procedimento, não era elas. Mas, raios, quem recomendava não eram elas? Talvez eu volte a ligar para a central do CERPE. Será que eles sabem que em Goiana optam por uma prática extremamente dolorosa na coleta de sangue das crianças que elas não conseguem pegar as veias?
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