segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

QUANDO JOÃO VICTOR NASCEU




Quando João Victor nasceu a minha vida foi colocada de ponta-cabeça. Eu era aluno do mestrado em História da UFPB, por isso estava em João Pessoa naquela noite. Era uma terça-feira, tive aula até às seis da tarde teria aula no dia seguinte também. Fui dormir na casa da minha sogra, Dona Zezinha, e esperava que Valéria telefonasse pra mim só lá pelas 21 horas. Mas, assim que cheguei, pouco antes das sete, já tinha um recado dela pedindo-me pra ligar. Daí por diante, foi só correria, literalmente.

Ela estava sentindo as contrações desde o inicio da tarde, mesmo assim foi trabalhar. Deu aula e participou da festinha surpresa preparada pelos seus alunos, como eles dizem: “o bota fora do bebê”. E ele sai mesmo. À noite Valéria teve de ser levada, às pressas para Goiana e teve muita sorte. Primeiro porque Veloso (seu primo) estava em casa para levá-la para o hospital e segundo porque sua obstetra (Dra. Ana Tereza) e a futura pediatra de João Victor (Dra.Fernanda Soares) estavam de plantão no Hospital Memorial de Goiana.

Mesmo assim, foram horas de sofrimento com as contrações. O plano de saúde não autorizou o parto alegando a falta de pagamento antecipada da co-participação e o hospital exigia pagamento antecipado em espécie ou, pelo menos 60% em dinheiro e o restante em cheque. Nessa hora, mais de nove da noite, eu ainda estava em João Pessoa tentando, procurando, junto com Verônica e a mãe de Valéria, um jeito de chegar em Goiana. Chamamos um táxi. Também tentamos sacar dinheiro nos caixas-eletrônicos, mas foi em vão: naquela hora só liberavam 100 reais, o máximo que conseguíamos – sacando na minha conta, na da mãe e do irmão de Valéria seria 300 e precisávamos levantar, ao menos, 800 em dinheiro vivo. Nessa correria insana aos terminais bancários, com a imagem de Valéria sofrendo na porta do hospital, eu me senti como se estivesse sendo vítima de um seqüestro relâmpago, tinha que conseguir dinheiro vivo no meio da noite para libertar minha mulher e meu filho. E aquela chuva que não parava modelava esse cenário de angústia e ansiedade.

Depois de inúmeros telefonemas, conseguimos um acordo com a direção do hospital. Dei minha palavra que estava chegando com algum dinheiro e cheque para fazer o pagamento e Paulo, irmão de Valéria, assinou uma promissória no valor total das despesas. Assim, eles concordaram em fazer a cesariana, isso após mais de três horas de espera.

Às 23h40, eu, dona Zezinha e Nonk estávamos dentro do táxi chegando em Goiana. Naquela hora, Ana Regina (cunhada de Valéria) liga pra dá os parabéns. Ela estava com Valéria no hospital desde o inicio da noite e me anunciava o nascimento de João Victor e me tranqüilizou dizendo que Valéria estava bem e logo chegaria no quarto. Brinquei com ela mandando proibir o acesso de qualquer outro homem a meu filho, até que eu o visse, para ele não se confundir, imaginando que tal sujeito fosse seu pai.

Pouco mais de 10 minutos, chegamos ao hospital. Corri pra ver meu filho e encontrar Valéria. Lá encontrei Veloso, Nice, Nilton, Paulo que estavam lá dando apoio. E que apoio. Sem eles nem sei como as coisas teriam andado, principalmente na minha ausência física. Veloso e Paulo e Nice insistiam na semelhança de João Victor comigo. Eu ficava até lisonjeado com essas observações, mas não conseguia achar muita semelhança. Pra mim recém nascido, tirando as características de etnia, são todos iguais. Fiquei muito feliz em ver meu filho nasceu. Invadi o berçário, acompanhei o banho, tirei fotos dele, fiz vídeo-clip... depois corri pra ver Valéria que estava chegando no quarto.

Ela estava muito grogue da anestesia. Falei com ela dizendo que nosso bebê era lindo e logo chegaria no quarto pra ficar com a gente.
Sai do quarto e fui acertar o pagamento na portaria. Mal entreguei o dinheiro e ouvi uma história que recibo só amanhã, Paulo me avisa que a pediatra e a obstetra querem falar comigo. Foi na sala de Ana Tereza, a ginecologista. Pré-senti, quando entrei na sala, que boas noticias não receberia ali. Fernanda, a pediatra, é uma amiga de adolescência de Valéria que a pouco se reencontraram e Ana Thereza nós conhecemos por acaso assim que Valéria engravidou. Com ela que fizemos todo o pré-natal e, agora, o parto. Fernanda tomou a iniciativa de me colocar a par da situação. Disse que João Victor, apesar de franzino (2,270 Kg – bem abaixo do espero para quem nasceu aos nove meses), nasceu bem e saudável, mas... porém.... ele tem um problema genético e por isso precisaria de cuidados e carinho redobrado. Eu sem entender nada, do que seria esse tal “problema genético” e Ana Thereza dizendo que nós, eu e Valéria, estávamos recebendo a missão de cuidar de alguém muito especial, que traria muito amor em nossas vidas. Aí, perguntei: “sim, mas que problema genético é esse?” Síndrome de Down, Bosco. João Victor tem síndrome de Down, Fernanda responde.

Nem mudei o semblante, apesar da perplexidade. Todas as ultra-sonografias do pré-natal mostravam uma criança perfeita. Numa delas pedi ao ultra-sonografista que verificasse a Translucência Nucal que, aliás, segundo ele, não apresentava nenhuma alteração. Foi ai que fiquei sabendo que esse exame não oferece certeza absoluta se a criança tem ou não uma síndrome. A exatidão pode ser obtida através de uma Amniocentese (coleta de líquido amniótico) ou Biópsia de vilo corial (placenta), ambos procedimentos possibilitarão a análise do cariótipo fetal (“mapa genético do feto”), mas são invasivos, ou seja, é preciso coletar o material para o exame de dentro da placenta, um risco para a mãe e para o bebê.

Considerando os problemas que Valéria teve na gravidez (fortes enjôos, grande perda de peso, ansiedade e momentos depressivos), foi até bom não saber nada sobre a síndrome. Mas, alguns dias depois de João Victor nascer, foi que ficamos sabendo das cardiopatias. Essas a gente precisava saber antes. Até mesmo para não lhe expor ao risco de morte durante o parto. Um ultra-som bem feita e, melhor ainda, um eco-fetal, nos diria, durante a gestação, quais as cardiopatias dele e, assim, teríamos tempo para planejar o parto em condições adequadas... mas sobre isso falarei em outras postagens aqui. Quanto a síndrome, eu sai triste daquela sala, mas ainda com esperança de que Fernanda estivesse enganada – a certeza só veio com o cariótipo dois meses depois. E ainda, por cima, teria de achar o melhor momento para dá a notícia a Valéria.

Não dormi mais naquela madrugada. E não foi por causa da conversa com as médicas. Queria ficar olhando minha cria. Tão franzino, tão frágil. Caído naquele sono tranqüilo enchia meu coração de paz e felicidade. Naquele ponto, eu já percebia uma mudança no curso da minha vida, mas não imaginava que as coisas mudariam tanto, assim, sem me pedir licença. Também não sabia que teria de andar por caminhos tão difíceis para aprender que permanecer vivo, um único dia, é uma conquista grandiosa, é a maior vitória que existe. Especialmente quando se descobre que só se vive um dia por vez.

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4 comentários:

  1. Confio em Deus que João Victor a cada dia que passar será mais e mais abençoado, mais do que ela já é! Estou na torcida por ele, apesar de não conhecê-lo pessoalmente! Gostaria de deixar uma msg de apoio para todos os familiares e dizer a vcs que Deus a partir do momento que concebeu Victor ja estava o iluminando, espero e desejo de todo coração que vcs acreditem e tenham mais e mais fé, principalmente naqueles momentos em que a situação se torna mais difícil e que achamos que não iremos aguentar...
    Enfim...desejo toda a felicidade do mundo p/ sua família viu Victor?! E fico aqui na torcida por todos vcs...saiba que conheço alguns dos seus tios, inclusive Nonk e sua vovó Zezinha! Fiquem com Deus e ACREDITEM que vai dar td certo! :)

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  2. Sarinha, muito obrigado por suas palavras. Elas sao um refigerio para nossas almas.
    Deus abençoe a vc e seus familares também.

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  3. Sr. João Bosco n~o conheceu mas daqui de timbaúba estou orando e pedindo para que tão o logo o joão victor se recupere.

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  4. Olá amigos DEUS vai com certeza garantir a vida do pequeno João Vitor, temos pedido em nossas orações pela recuperação e saúde desse garotinho!.
    Ele ainda irá dar muitas alegrias a essa família...!

    DEUS É TUDO DE BOM E FAZ MILAGRES!

    JONAS MELLO
    Radialista DRT/CE Nº4337
    Rádio Globo Fortaleza AM620
    www:jonasmelloradialista.blogspot.com
    (0**85)9642 - 1173

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